por Egídio Dórea
Sexo na velhice é um grande tabu da sociedade. Não conseguimos e nem sequer tentamos imaginar pessoas velhas tendo relação ou prazer sexual. Envelhecer estaria naturalmente associado à perda do desejo e da atração. Velhos e velhas tocando-se, erotizando-se e atingindo orgasmos é algo inconcebível para uma sociedade pautada na juventude e na beleza física. Imagine encontrar uma mulher de 83 anos em um sex shop. Qual seria a sua reação? Espanto, desprezo, menosprezo ou simplesmente fingir que não estaria vendo?
Coluna publicada no New York Times retrata a experiência desta mulher idosa ao adentrar um sex shop no bairro Soho. Acompanhada de uma amiga de quarenta e poucos anos, que logo desaparece, intimidada pela sua própria idade, sente-se completamente ignorada por todos os vendedores da loja, como se fosse invisível. Deixa de ser uma compradora em potencial, e passa a ser um nada. Afinal o que estaria fazendo uma velha no meio de vibradores de cores, tamanhos e funções variadas? Buscando joguinhos para apimentar a relação nesta idade? Impossível. Deve estar demenciada. Seria certamente um dos pensamentos desses vendedores.
Manter-se produtivo e ativo sexualmente seriam pressupostos fundamentais para a vida, segundo Freud. O sexo deixa de ser um ato pautado na procriação e passa a esfera do prazer. Sentir prazer independe da idade. E a sua perda não decorre de um processo natural do envelhecimento. Velhos e velhas continuam tendo necessidades e desejos. E direitos. Direito ao ato em si, ao uso de vibradores, cremes e outros apetrechos.
Vencidas as barreiras do sex shop e de posse das suas compras, sentem-se protagonistas. Saem com uma sensação de liberdade e felicidade. Sim, é possível ser feliz na velhice. E em casa, aos 83 anos de idade, descreve-nos as sensações experimentadas pela iminência do ato sexual com o seu parceiro. Ser desejada e desejar; o prazer do toque; a plenitude. Complementadas pelo amor, carinho e respeito. Sexo saudável, completo e necessário aos oitenta e poucos anos.
Caso tenha interesse a coluna na íntegra do NYT está neste link (AVISO - matéria com PayWall)
Egídio Lima Dórea
Graduação em Medicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Residência e
doutorado em Nefrologia pela Universidade de São Paulo. Professor de Medicina da
Universidade São Caetano do Sul. Diretor da Aging 2.0 Chapter Brazil. Coordenador da
Universidade Aberta à Terceira Idade da USP (USP 60+). Coordenador do programa USP Rumo ao Envelhecimento Ativo. Membro da comissão de Direitos Humanos da USP. Conselheiro do International Longevity Centre Brazil.
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